O convite de uma amiga veio convenientemente preencher a minha noite de sábado. Ela precisava de alguém para acompanhá-la em uma super produção patrocinada pela empresa em que trabalha, e já que o evento era uma balada, melhor convidar uma amiga solteira, né?
O evento é o ultimamente comentado Via Gol. Uma nova investida do Marketing na imagem da empresa, que, bem, deu mais ou menos certo até agora. A idéia é inovadora, embora a princípio pareça incompreensível. Uma ópera eletrônica apresentada em um "espetáculo-festa", como eles gostam de chamar. Traduzindo, o evento começa com uma apresentação teatral, em que a ópera é acompanhada por música eletrônica regida por um DJ, e alguns instrumentos clássicos regidos por um maestro. Lembra de Moulin Rouge ou Romeo + Juliet? O antigo e o moderno juntos para contar uma história? Mais ou menos nessa linha, só que no palco. A Ópera é O Guarani (Carlos Gomes), baseada no livro homônimo de José de Alencar. Eu não li o livro e nem sabia que tinham feito uma ópera com ele, mas consegui entender "malemá" a estória. E para ser sincera, não gostei muito.
A forma como o espetáculo foi montado, resumindo absurdamente a peça, misturando elementos, e etc e tal, pedia que o espectador ao menos tivesse lido o livro, para conseguir acompanhar o desfecho. Ou o não desfecho, já que me parece que foi apresentada apenas uma parte do romance de Peri e Ceci. Mas eu gostei muito da idéia de unir dança moderna, música eletrônica e teatro. O que estragou mesmo foi a Ópera, porque não consigo associar o idioma italiano a nenhum dos outros elementos do espetáculo. É como se ficasse perdido ali. Se fosse um musical em português, poderia ser melhor. Mas continuando a falar um pouco das coisas boas: as coreografias eram ótimas mesmo. Elas tornaram as cenas de batalha entre índios e brancos em uma disputa de dança, sem deixar de parecer uma guerra. Todas as lutas, por sinal, foram retratadas de forma bem original. Em uma delas, Peri e o vilão se transformam em personagens de um game e a luta é vencida por rounds, bem no estilo Tekken ou Street Fighter. No palco, uma plataforma de seis ambientes lembrou uma peça de lego gigante onde os atores se dividiam e representavam diferentes movimentos ao mesmo tempo. Acima dessa plataforma, três telões mostravam personagens que não faziam parte da estória (parece que eles eram um tipo de caricatura do público) e nas laterais do palco dois telões mostravam as imagens do palco (como nos shows de música) e a legenda em português da Ópera. Tudo isso ligado, intercalado, na melhor expressão do pós-modernismo que eu me recordo de já ter visto. Depois do espetáculo, a noite continuou com música eletrônica até às 5 da matina (ou mais, não sei).
Enfim, gostei muito da montagem, da estrutura, da mistura música-eletrônica-teatro-dança-antigo-moderno, ou basicamente da parte técnica. Não gostei da Ópera, nem do narrador (que tinha uma dicção péssima) e nem dessa idéia de assitir em pé, pelo desconforto e porque o palco é baixo (quem ficou atrás perdeu a visão da peça e eu, que estava de salto, fiquei com os dedos dos pés dormentes).
Em tempo (ou não): para saber mais sobre o evento, www.arteviagol.com.br